A HISTÓRIA DO BDSM


As atividades BDSM foram criadas de forma genuinamente espontâneas em diversas culturas ao redor do planeta. Ao longo da história fomos percebendo que é da natureza do ser humano incluir alguns dos elementos essenciais do BDSM em sua experimentação sexual.
A verdade é que não se sabe ao certo a data exata de quando foi criada a terminologia “BDSM”. Porém, sabemos dos acontecimentos históricos que ajudaram a popularizar as práticas sadomasoquistas e fetichistas em geral que, futuramente, se solidificaram como cultura BDSM de fato após o surgimento da internet.


Os primórdios
Há milhares de anos o Kama Sutra já descrevia quatro formas diferentes de bater no ato sexual, regiões do corpo humano que podem ser atingidas e diferentes tipos de expressões de dor de uma pessoa submissa.
O relato mais antigo de dominação e submissão que conhecemos está em textos da mitologia suméria de milhares de anos atrás sobre o mito de Inanna e Ebih. De acordo com a história, a Deusa Inanna era uma figura feminina poderosa e sexualmente dominante que forçava homens e deuses a se submeterem à ela.
Já o Kama Sutra, antigo texto indiano de comportamento sexual humano, foi provavelmente a primeira obra a tratar de sadomasoquismo seguro e consensual. Há milhares de anos o Kama Sutra já descrevia quatro formas diferentes de bater no ato sexual, regiões do corpo humano que podem ser atingidas e diferentes tipos de expressões de dor de uma pessoa submissa.
A Tumba da Flagelação, localizada na Necrópole de Monterozzi, Itália, é uma das provas gráficas mais antigas de sadomasoquismo. A imagem aparenta ser de uma mulher recebendo uma pancada com uma vara durante um ato sexual. Outra referência à flagelação pode ser encontrada no sexto livro da coleção “Sátiras” de 200 anos AC do poeta romano Juvenal, onde fala de uma mulher que obtém prazer sexual ao chicotear homens.

O conto de Fílis e Aristóteles foi uma história que popularizou-se e ganhou inúmeras versões do século XII em diante. Ela fala sobre uma mulher que seduziu e dominou o intelecto masculino do maior dos filósofos. Na história, Fílis obriga Aristóteles a ficar de quatro no chão para que ela cavalgue nas costas dele enquanto o chicoteia e o humilha verbalmente.

Obra de Lucas van Leyden, do início do século XVI, sobre o conto de Fílis e Aristóteles.

As Casas da Disciplina e o surgimento da Dominatrix
A profissão de dominatrix só foi se originar com a especialização de bordéis, por volta dos séculos XVI e XVII. Esses bordéis especializados em sadomasoquismo eram conhecidos como “Casas da Disciplina”. Foi a partir daí que as práticas sadomasoquistas começaram a ser disseminadas na sociedade.

A obra “Memórias de Uma Mulher de Prazer”, mais conhecida como “Fanny Hill”, foi o primeiro conteúdo pornográfico da história lançado como romance. Foi escrito pelo britânico John Cleland no século XVIII e foi um dos livros mais processados e proibidos da época por conter diversos atos de sexo explícito como orgias, sexo lésbico e sadomasoquismo.

No século XVIII também foi publicado o “Fashionable Lectures”, um livro pornográfico que continha a flagelação como tema central. A obra promovia o nome de diversas dominatrixes reais que forneciam o serviço de dominação.

Já no século XIX foi quando ocorreu na Europa a Era de Ouro das dominadoras. Dezenas de estabelecimentos de flagelação foram documentados de terem existido durante esse período na Europa, especialmente no Reino Unido. Theresa Berkley foi a dominatrix mais famosa da época, ela era dona de um bordel no Reino Unido e possuia clientes da mais alta aristocracia.


A obra precursora do BDSM
No ano de 1870 foi lançada a obra “A Vênus das Peles” (também conhecida pelo título em inglês “Venus in Furs”), do austríaco Leopold von Sacher-Masoch. Foi a primeira obra 100% voltada a temática BDSM e a primeira a abordar a história de um relacionamento consensual de dominação e submissão.

A história de “A Vênus das Peles” foi baseada na vida do próprio autor. Ele possuiu um relacionamento de seis meses com Fanny Pistor centrado em obediência e servidão onde ela era a dominadora e ele era seu servo. Eles tinham um acordo que permitia que o escritor tivesse algumas poucas horas de folga e privacidade todo dia para se dedicar à um trabalho. Quando lemos “A Vênus das Peles”, estamos lendo o resultado desse trabalho de seis meses que ele vinha escrevendo. A palavra “masoquismo”, aliás, foi posteriormente derivada do nome do autor Sacher-Masoch.

A obra de Sacher-Masoch, que deu início à literatura BDSM, causou polêmica na época, mas ajudou na desconstrução e liberdade sexual de homens e mulheres e influenciou o surgimento de diversos escritores e escritoras BDSM nas décadas seguintes. Com o passar do tempo, essas práticas foram ganhando mais e mais adeptos querendo fugir do padrão social do “sexo papai e mamãe”.

Entre algumas das obras mais notáveis do universo BDSM, temos “A História de O” (também conhecida como “Histoire d’O”), escrita em 1954 por Anne Desclos sob o pseudônimo de Pauline Réage. A personagem central da obra utiliza um anel como símbolo de obediência conhecido como Anel de O. Hoje em dia, o Anel de O é um atributo utilizado em coleiras por homens e mulheres que se consideram submissos em relacionamentos BDSM.

Ilustração de Fanny Pistor segurando um chicote com Sacher-Masoch no chão.


A moda fetichista e o surgimento da internet
Ao longo do século XX, a moda fetichista foi se desenvolvendo na Europa e nos Estados Unidos. Charles Guyette é conhecido como o pioneiro em produzir e distribuir materiais com essa temática, como roupas, calçados, adereços e acessórios em geral.

Irving Klaw foi o sucessor de Charles Guyette e trabalhou com fotógrafos e desenhistas como John Willie, Gene Bilbrew e Eric Stanton no desenvolvimento de trabalhos de conteúdo fetichista. A modelo Bettie Page, que também trabalhou com Irving, foi a mais famosa modelo a participar de diversas produções fetichistas. Ela realizava tanto o papel de dominadora quanto o papel de submissa nos trabalhos.

Já a subcultura leather (ou subcultura do couro) é uma comunidade majoritariamente gay que foi criada por soldados logo após a Segunda Guerra Mundial. A subcultura leather teve uma influência muito forte no desenvolvimento do BDSM durante o século XX e na moda fetichista em geral. Hoje em dia, a subcultura leather é considerada como parte da cultura BDSM.

O movimento Leather aos poucos foi ganhando muitos adeptos e aos poucos foi deixando de ser algo mais exclusivo ao público masculino gay. Entre as décadas de 1970 e 1980, surgiram diversos movimentos feministas ligados ao Leather, como Lesbian Sex Mafia, Samois e The Outcasts. Essas vertentes LGBTs e feministas que foram as maiores responsáveis por moldar o BDSM como conhecemos hoje.

Mas apesar das siglas B/D e S/M já serem amplamente usadas dentro do universo fetichista, sigla BDSM só foi começar a ser usada mesmo após o surgimento da internet.

Nos primórdios da internet existia um meio de comunicação popular chamado Usenet, onde usuários postavam mensagens em fóruns agrupados por assunto. Em 1991, foi criado o grupo de Usenet chamado “alt.sex.bondage”, considerado o primeiro fórum BDSM. E foi no alt.sex.bondage que a sigla BDSM começou a ser utilizada e popularizada entre o público fetichista. Anos mais tarde, o público do alt.sex.bondage migrou para o soc.subculture.bondage-bdsm. E em 2008, foi criado o FetLife, primeira rede social exclusiva para a comunidade BDSM.

Nas últimas décadas, a cultura BDSM tem se solidificado como uma importante ferramenta de liberdade sexual, além de possuir um forte discurso de luta contra o abuso.


Conclusão
Com isso, concluímos que o ser humano em geral, independente de gênero e orientação sexual, sempre viu prazer no sadomasoquismo e na dominação/submissão. Porém, a sociedade historicamente machista sempre induziu o homem a ser “machão” e dominante e sempre induziu a mulher a ser “delicada” e submissa na vida cotidiana. Apesar disso, podemos ver que o homem nunca foi mais nem menos naturalmente dominador do que a mulher no ponto de vista sexual.

Na sociedade ditada pelo patriarcado, o BDSM só começou a ganhar forma após alguns homens começarem a abrir a mente de preconceitos sociais e admitirem que amavam ser dominados. Isso possibilitou que mulheres também saíssem do sexo padrão e explorassem outras formas de prazer, popularizando assim, a dominatrix moderna e as práticas sadomasoquistas.

Resumindo e exemplificando o que é o BDSM: se a pessoa X achar excitante vendar os olhos da pessoa Y e a pessoa Y achar excitante ter os olhos vendados pela pessoa X, então deixemos que elas explorem o prazer delas. Ser contra o BDSM é querer reprimir e rotular como as pessoas devem agir na cama.

Após muita pesquisa em artigos e livros diversos, encerro aqui meu modesto conteúdo de história revelando a raiz do BDSM. O conceito central do BDSM diz que todas as pessoas devem ter a liberdade sexual de buscarem o prazer na dominação ou na dor, desde que seja tudo consensual e que haja respeito. Devemos sempre deixar claro que se não há respeito, não é BDSM, é abuso.

Saudações BDSM!

Senhor Etrom

A HISTÓRIA DO BDSM A HISTÓRIA DO BDSM Reviewed by MESTRE ETROM on 24.7.22 Rating: 5
Tecnologia do Blogger.